Esta edição é dedicada a Saul Peña Kolenkautsky, um amigo, colega inesquecível, a alegria em pessoa e, ao mesmo tempo, com a seriedade da história da Psicanálise atravessada na sua prática clínica, trajetória e formação. Nascido em 23 de agosto de 1932, “esteve vivo até a hora de sua morte” em 4 de dezembro de 2023. Membro fundador da Sociedade Peruana de Psicanálise, onde foi muito atuante, supervisionou pessoalmente com D.W. Winnicott durante sua formação psicanalítica na Sociedade Britânica de Psicanálise – onde também conviveu com Marion Milner e Masud
Khan, entre outros. Esta edição da Rabisco homenageia o grande mestre, colega e amigo, que fazia parte de nosso Conselho Editorial Internacional e deixou sua importante contribuição histórica para a Psicanálise latino-americana. Na seção História desta edição, publicamos um artigo de Saul, em versão original, para apreciação dos leitores. O texto foi entregue por ele mesmo para que o publicássemos oportunamente, após sua participação no Encontro Latino-americano de Winnicott, em 2019, em Porto Alegre (RS).
O ano de 2022 foi de uma reestruturação editorial em que a Rabisco Revista de Psicanálise tornou-se 100% digital e de livre acesso aos leitores. Encerramos o canal de vendas e atualizamos o nosso site, pois todo o conteúdo, desde as primeiras edições, está agora disponível digitalmente aos leitores. Além disso o prazo anual para envio de artigos a serem apreciados para a próxima edição passou para 15 de março do ano vigente. Tendo em vista toda essa reestruturação ocorrida, no ano passado não tivemos nossa edição anual.
Nada existe que não tenha existido em potência anteriormente. Winnicott dedicou-se a um capítulo em sua obra sobre o conceito da “capacidade de estar só” ou capacidade de “ser só” (The capacity to be alone), e esta edição da Rabisco recebe a temática porque vários colegas de todo o Brasil se dedicaram a pensar os seus fazeres e saberes, à luz da teoria psicanalítica de Winnicot, sobre o desenvolvimento dessa capacidade a partir de um ambiente facilitador, seja no início da vida do sujeito ou posteriormente, nas relações estabelecidas no curso do amadurecimento do ser.
Torna-te quem tu és foi tema do VI Encontro Gaúcho sobre o Pensamento de D.W.Winnicott, em 2019, e no mesmo ano também tivemos o XXVIII Encontro Latino-americano sobre o Pensamento de D.W.Winnicott, em Porto Alegre, com o tema Natureza humana. Tornar-se quem somos, assumirmos apropriadamente nossa natureza humana e todas as suas vicissitudes, implica num percurso de amadurecimento, descobrimento e aceitação. Humanos coerentes ou contraditórios, tornar-se humano é ser aquilo que fizeram de nós e o que nós fazemos disso. Com trabalhos desses dois encontros e outros que recebemos para apreciação e publicação é que chegamos nesta Rabisco número 10, completando uma década de muitos trabalhos publicados. E para “inovar baseado na tradição”, como diria Winnicott, neste número teremos uma edição inicial exclusivamente on-line, pois queremos a Rabisco ainda mais inserida e lida pela comunidade científica e de interessados pelo pensamento de Donald Winnicott. Dessa forma, reposicionamos, a partir desta edição, nossa distribuição e meio de acesso ao periódico. E assim seguiremos nos próximos anos, sempre inovando junto de nossos leitores e autores.
Os artigos desse Volume 9, número 1, dedicam-se ao tema central do AMOR em Winnicott, o amor em outros autores, questões de amor e gênero, amor e amizade, amor na cultura e no cinema e visões filosóficas do amor. E mais seções como “Psicanálise e Cultura”, “Histórica” e “Gesto Espontâneo” também compõem esse exemplar que tanto apresenta trabalhos apresentados no V Encontro Gaúcho sobre Winnicott como os demais enviados por nossos colaboradores. Boa Leitura!
Winnicott e o Poder, volume 8 da Rabisco Revista de Psicanálise, é composta, em sua grande maioria, por artigos apresentados no IV Encontro Gaúcho sobre o pensamento de Donald Winnicott , que teve como tema “O indivíduo e as instituições: da submissão à independên-cia” e do XII Encontro Brasileiro que versou sobre “Winnicott, poder e sofrimento psíquico”. Contempla artigos que abordam questões teóricas sobre o desenvol-vimento emocional primitivo, sobre a transmissão da lei e da tradição, sobre o desenvolvimento psíquico e o poder das mães no processo de subjetivação, bem como artigos que versam sobre questões políticas e sociais. Iniciamos a Rabisco com o artigo de Ana Lila Lejarraga “O poder no setting analítico” onde resgata a importância do amor analítico como contrapartida do poder e domínio sobre pacientes que levariam a uma maior submissão, a partir das propostas teórico-técnicas de Ferenczi e Winnicott.
A partir de uma perspectiva baseada no conceito Winnicottiano de “criatividade” , mostra-se o elo entre o talento criativo do autor e sua procura por um viver criativo através do expurgo dos seus medos na obra conhecida como The Wall. Álbum musical lançado em 1979 pela banda Pink Floyd, que traz uma enorme carga dramática da subjetividade de seu principal criador, R. Waters.
Esta Rabisco tem como tema central “Verdadeiro e Falso Self”; sendo, em parte composta, por artigos apresentados no II Encontro Gaucho sobre o Pensamento de Donald Winnicott realizado em Porto Alegre, em junho de 2015. O self verdadeiro, para Winnicott, se constitui na experiência compartilhada, a qual possibilitará que o potencial herdado receba contorno e possa genuinamente emergir. Para a expressão do verdadeiro self é necessário que o ambiente responda adequadamente ao gesto espontâneo do bebê. Entretanto, quando a mãe se mostra é incapaz de fazer uma adaptação ativa para cuidar de seu bebê, ele passará a reagir numa tentativa de sobrevivência, o que determinará um rompimento da “continuidade do ser”, em um momento primitivo do amadurecimento. O falso self se constituirá, então, como uma tentativa de substituição da função materna que fracassou. Está Rabisco está completa de contribuições clínicas e teóricas neste sentido. Boa Leitura!
Esta nova edição da Rabisco traz uma satisfação redobrada, pois marca o aniversário de cinco anos desta publicação. Para prestigiar esta conquista, apresenta-se o número “Agressão”. Este tema foi inspirado em inúmeros debates que se estabeleceram pelo Brasil, durante 2014.
Nesta edição dedicada ao estudo dos Estados Borderline, Nahman Armony, em “A dissolução do borderline : rabiscos históricos”, apresenta uma revisão histórica sobre o tema, abrangendo as classificações psiquiátricas, hipóteses etiológicas e entendimento dinâmico. O colega Nahman foi nosso convidado especial nessa edição, pois tem sido referência a outros autores no que diz respeito a pensar e trabalhar as personalidades borderline de forma crítica e atualizada no contexto histórico atual. inclusive alguns autores o citam em seus artigos nesse número.
O volume 4, número 1 foi pensado para ser a lembrança do VIII Encontro sobre o Pensamento de Winnicott, realizado em outubro de 2013 em Bento Gonçalves, RS. O evento, que teve como tema “O Brincar e a Realidade”, possibilitou que além de trocas teóricas vivêssemos uma grande experiência afetiva. Winnicott dizia que se o analista não pudesse brincar não servia para o ofício (1975). Neste volume mostramos o quanto estamos sempre buscando nos instrumentalizar para que possamos desempenhar este ofício que tanto amamos. Foram selecionados 25 textos que possibilitarão ao leitor meditar sobre o brincar dentro da realidade clínica. O brincar do analista e o brincar do paciente ou o brincar do analista com o paciente ou o brincar do paciente com o analista, que juntos constroem novas formas criativas de perceber e entender o mundo e conseqüentemente, construir novas formas de subjetividade. Na seção Gesto Espontâneo, Sueli Hisada escreve “Últimos Rabiscos com Outeiral” e na seção História apresentamos um minucioso levantamento de referências bilbliográficas feito pelo João Amaral sobre as “Obras de José Outeiral”.
Esta é a mais especial Rabisco que jamais será feita, esta Revista é feita da tristeza da despedida e, ao mesmo tempo, do contentamento da possibilidade de reunir histórias e memórias para serem compartilhadas sobre o Brincar de José Outeiral.. Como o próprio Outeiral nos ensinou “a vida é uma ficção a partir dos fatos”. Cada um de nós, comissão editorial, leitores, amigos, alunos de José Outeiral têm a sua própria memória em relação a ele, mas também existem alguns fatos inegáveis… Tivemos a oportunidade de estar próximos de um dos maiores profissionais e indivíduos que transitaram pela psicanálise. Alguém que transitou e transicionalizou, cruzou o Brasil, a América Latina, “uniu pontas”, aproximou pessoas, potencializou espaços, encontrou possibilidades onde ninguém via. O brincar do visionário e agregador. José Outeiral tinha uma capacidade muito particular, algo que podemos chamar de “generosidade criativa”: ele não apenas reconhecia potencialidades e abria espaços, como também criava espaços para a construção destes potenciais. Ele percebia possibilidades nos seus amigos, alunos e colegas, que nasciam quase como uma ilusão, mas seu gesto espontâneo originava algo no mundo objetivo, que fazia da ilusão inicial uma criação. Próximos dele, todos se tornavam, subjetivamente e objetivamente, mais criativos! O brincar do criativo e generoso.
A Rabisco, Volume 3, Número 1, é inspirada no VII Encontro Brasileiro sobre o Pensamento de D. W. Winnicott, que aconteceu em agosto de 2012, em Fortaleza. Este evento intitulado “A clínica da transicionalidade: De Freud a Winnicott” oportunizou trocas teóricas que se combinaram a trocas de experiências clínicas e intercâmbios de experiências de vida. Em Fortaleza, como vem ocorrendo nos “nossos Brasileiros”, deu-se um verdadeiro “Encontro da transicionalidade”, onde referências históricas, referências da cultura e toda uma gama de reflexões sobre as transformações e as necessárias adaptações na clínica atual formaram uma rede potencial. O resultado é um numero com uma ênfase na prática psicanalítica, com muitos artigos onde propostas de manejo e adaptações do setting surgem muito bem sustentados pela teoria e ilustrados por vinhetas clínicas. Estas mesmas necessidades de adaptações do setting e do analista aparecem sugeridas de forma criativa em artigos que utilizam o cinema, a literatura, ou a própria “literatura psicanalítica”. O DVD encartado traz um documentário com Saul Peña, produzido e dirigido por Ana Leão, que registra sua passagem por Porto Alegre, em 2012, por ocasião do I Aniversário da Rabisco
Este Volume 2, número 2 da Revista Rabisco é dedicada ao pensamento de Anna Freud e André Green. A proposta é favorecer um campo de expressão onde suas contribuições possam ser pensadas e repensadas. Estes dois autores, com obras distintas, têm em comum o fato de terem sido profundamente marcados pela história institucional da psicanálise, sem que isto inibisse suas capacidades de contribuição para o desenvolvimento da psicanálise. Anna nascida em Viena, em três de dezembro de 1895, contemporaneamente à psicanálise; talvez, simbolicamente, as duas “filhas gêmeas” de Sigmund Freud. A obra de Anna Freud expressa características de uma ciência que se transformava, mas que ainda precisava zelar por sua continuidade.
Completar um ano com três volumes editados do nosso periódico faz-nos lembrar o quanto a Rabisco era apenas uma ideia virgem a povoar nosso imaginário. A Rabisco Revista de Psicanálise ainda é bastante nova em sua concepção, identidade, mas apresenta traços marcantes de uma independência autoral que, ao mesmo tempo que busca ser criativa e comprometida fielmente ao pensar psicanalítico está permeada pelas demais áreas de interesse. Independente não significa inconsequente, mas ter um sentido de liberdade ou de “rumo a independência” como melhor diria Winnicott. O contato do leitor com os rabiscos do autor possibilita uma experiência verdadeira do viver criativo, um contato marcante com o espaço potencial dentro de nós. Por isso a pretensão paradoxal de ser uma revista independente.
Esta Rabisco Volume 1, Número 1, EDIÇÃO HISTÓRICA, apresenta trabalhos apresentados nos quatro primeiros Encontros Latino-Americanos sobre o Pensamento de Donald Winnicott para registrar nossa dívida com o passado e o reconhecimento de autores que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da psicanálise. Devido a riqueza cultural latino-americana, semelhanças e diversidades, optamos por não traduzir os textos, organizando-os para esta edição como foram apresentados em 1993, 1994 e 1995, apenas com a atualização pelo novo acordo ortográfico da língua portuguesa e algumas padronizações na forma de publicação. Na “Seção História” publicamos uma carta de Donald Winnicott para nosso conselheiro internacional Saul Peña, de Lima, que conviveu e supervisionou com Winnicott, quando de sua formação na Sociedade Britânica de Psicanálise. Criamos uma outra seção, a “Gesto Espontâneo” para publicar textos dos diversos espectros do pensamento e da cultura. E compartilhamos com nosso leitor os Comentários A La Presentación De La Revista Rabisco, que Raquel Zak de Goldstein nos encaminhou quando do lançamento do número “zero” da Rabisco em junho deste ano. Faça parte desta história!
Para poder divulgar pensamentos tramados a partir das ideias de Donald W. Winnicott, dos demais autores do Middle Group e os mais variados interesses, sendo eles do campo teórico, experiencial, social, cultural, artístico relacionados com a Psicanálise no Brasil, na América Latina e no mundo é que os Seminários Winnicott POA estão lançando esta revista. A Rabisco é uma revista independente, um espaço aberto ao gesto espontâneo e criativo.